O advogado Paulo Amador da Cunha Bueno, responsável pela defesa de Jair Bolsonaro, adotou uma linha inusitada ao responder às acusações de tentativa de golpe feitas pela Polícia Federal. Segundo ele, o plano descrito no relatório da PF beneficiaria uma junta militar, não o ex-presidente, insinuando que Bolsonaro teria sido traído por membros das Forças Armadas, incluindo os generais Augusto Heleno e Walter Braga Netto.
Estratégia de defesa
Cunha Bueno argumenta que Bolsonaro não estaria no comando do suposto golpe, conhecido como “Operação Punhal Verde Amarelo”. De acordo com a defesa, o plano previa a criação de um “Gabinete Institucional de Gestão da Crise” liderado por militares, sem participação do ex-presidente.
“Quem seria beneficiado seria uma junta criada após a operação. E nessa junta, Bolsonaro não estava incluído”, disse Cunha Bueno em entrevista.
A declaração contrasta com o relatório da PF, que afirma que o plano tinha como objetivo manter Bolsonaro no poder, prorrogando seu mandato antes da realização de novas eleições.
Militares negam envolvimento
Braga Netto, ex-ministro da Defesa, chamou a tese de “absurda e fantasiosa”. Outros generais, como Marco Antônio Freire Gomes e Carlos de Almeida Baptista Junior, confirmaram em depoimentos que rejeitaram propostas golpistas apresentadas por Bolsonaro.
“Traído” ou “conivente”?
Embora o advogado admita que Bolsonaro tenha recebido “todo tipo de proposta” golpista, ele afirma que o ex-presidente não as teria endossado. No entanto, especialistas questionam sua conduta:
“Se ele sabia do plano e silenciou, no mínimo foi conivente”, aponta Fabio Tofic, do Instituto de Defesa do Direito de Defesa.
A PF concluiu que a recusa de membros do Alto Comando do Exército foi decisiva para impedir o avanço da tentativa de golpe. A Procuradoria-Geral da República (PGR) analisará se apresentará uma denúncia formal contra Bolsonaro e outros envolvidos.
A controvérsia coloca em xeque a relação entre Bolsonaro e os militares, que sempre foram pilares de seu governo e base de apoio político.